Segundo parto

                                                                            

  E foi olhando a minha Maria sair pro colégio hoje, que me dei conta que estou em pleno trabalho de 2ª parto e das mesmas filhas! Eu nem sabia que isso seria possível!
  Para complicar ainda mais, descobri que o tal segundo parto pode ser infinitamente mais difícil que o primeiro. No primeiro, em meio a qualquer possível desconforto físico, existe aquela vontade, quase insana no meu caso, de ver, sentir o cheiro, olhar os olhos, ter nos braços, estamos parindo "para nós"! Finalmente vamos poder cuidar pra valer daquela pessoinha que passamos 9 meses acalentando no ventre, embalando no pensamento, amando na alma.
  Já no segundo parto, "parimos de nós" e de repente vemos aquele bebê que outro dia ninamos cantarolando uma música inventada, sair sozinho, conseguindo ir pro colégio sem segurar em nossa mão, sem esperar pelo preparo da lancheira, nem na van o colocamos mais!
  E nestes segundos tenebrosos me dei conta de que aquela máxima de que "criamos filhos pro mundo" é terrivelmente cruel. Claro que tudo que mais quero é ve-las crescendo, andando com os próprios pés e tendo firmeza nos passos. Quero! Claro que quero, claro que preferia ter a opção de não ter que querer! Mas tem outra opção?
  Minha sensação é um misto atordoador de tantos sentimentos que ando achando difícil entender, o que dirá explicar. Estou assistindo minha cria mais velha ir morar noutra cidade, recomeçar outra faculdade, viver com pessoas que ainda nem sei quem são, numa casa que nem sei se tem poeira, com uma geladeira que não sei se limpam direito, sem saber onde fica o ponto de ônibus, nem se o professor é legal, ou se a cantina tem lanches saudáveis, se a rua é segura, se a vizinhança é normal, se...se....se...
  Por que ser mãe está parecendo sinônimo de "se"? Tanta coisa que preciso saber primeiro, ela poderia ter esperado um pouco mais para se mudar, afinal que diferença faria esperar mais uns 15 anos pelo menos? Ela estaria mais madura, eu mais segura, ou eu mais madura e mais insegura!
  É tanto orgulho de olhar minha menina-mulher cheia de razão, de disposição e de coragem, que me enche de medo por tanta razão, tanta disposição e tanta coragem!
  Claro que eu quero que cresça, construa sua própria história, conquiste seus sonhos, trilhe seu caminho, mas poxa, ele não poderia ser ali na rua de baixo?
  E hoje, olhando minha Maria seguindo sozinha e caminhante pra aula, percebi que esta começando mais um trabalho de parto.
  Segundo parto, aquele mais difícil, porém inevitável!
  Estou cheia de orgulho de novo e é só o começo, outro começo! 
  Mas ela bem que poderia esperar mais uns 10 anos para querer ir sozinha pro colégio!
  Quem sabe eu me sentisse mais segura...





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