Equilíbrio sem norte





                                                      





  Recebi outro dia um vídeo de uma amiga querida que me representou. Nele uma simpática palhacinha, falava sobre esse simpático e desenfreado equilíbrio atual.                        
  Pode ser campo minado falar desse terreno pra mim, afinal tenho um espaço que respira esse universo, mas vamos combinar que anda meio demais a coisa toda. Acho verdadeiramente tudo de lindo tanto movimento e disposição na busca pelo autoconhecimento, pela espiritualidade e o bendito equilíbrio nosso de cada dia! Honro e respeito esse novo ciclo, só acho que está sem filtro!
  As vezes tenho a sensação que nos tornamos um monte de crianças, privadas do direito de brincar por longos anos, mas sabendo que existia um quarto de brinquedos logo ao lado. Até que um dia alguém entregou a chave e falou: "brinquem". 
  Pronto! Ferrou tudo! As crianças deram uma surtada básica e resolveram ligar todos os brinquedos ao mesmo tempo, montar todas as peças juntas, vestir todas as bonecas, jogar todos os jogos e bolas possíveis! Mas sem olhar de fato o que é cada um daqueles brinquedos, de qual gosta de verdade, com qual se identifica, para que serve cada um deles, quais os cuidados tomar e por ai vai.
  Há seres saindo fazendo 144 cursos seguidos, imersões, workshop, curas, sem ao menos se permitir parar em algum deles por um tempinho, compreender, vivenciar de verdade. Daí pronto. Se enchem de espiritualidade e a doam diariamente a quem cruzar seu caminho, nem precisa pedir!
  Tranquilo que cada um tenha sua trajetória, seu sapato e suas escolhas, mas conversar em algumas situações virou uma viagem psicodélica.
  Tudo ganhou um ritual, um nome agregado, um adorno, uma exigência. De repente é como se os ritos se tornassem mais importantes que as intenções, como se o pensamento, a intenção ou a vibração tivessem ficado em segundo plano, afinal se você não "vestir uma saia longa de tecido sustentável claro, a lua não estiver cheia, aquele vaso azul com água solarizada não estiver na mesa que foi construída artesanalmente por um tailandês que entoava um mantra indiano e aplicava reiki na madeira e você não segurar um cristal com o dedo anelar da mão esquerda", não irá se conectar e o universo não vai compreender seu chamado!
  E chamado se tornou o nome atual para a vontade, o desejo, a vocação, a necessidade! Não se diz mais "eu senti vontade fazer esse curso", o iluminadamente correto é: "eu senti um chamado para fazer esse curso".
  Tempos atrás, cheguei na ira verde com o trânsito e cometi a besteira de permitir que um novo iluminado percebesse! Pronto, deu ruim! - "Nossa, nunca imaginei que você fosse capaz de se irritar tanto, afinal olhe seu trabalho!". 
  Olhei! Mas sinceramente não consegui ver nele nada que me fizesse menos humana e irada naquele momento. As vezes até meu trabalho me irrita. E sim, eu fiz q escolha certa, amo o que faço e minha criança interior também está bem sossegada, embora ainda curta ser mimada vez ou outra! Gratidão!
  Tenho uma enxaqueca parceira de vida e criamos um relacionamento respeitoso, mas ando escondendo a coitada nos últimos tempos, pois já deu o tanto de vezes que falar dela, se tornou sinônimo de ouvir explicações sobre minha infância! Parei de roer unhas e descobri que minha cutícula era íntima das minhas emoções mais profundas! Reclamar do marido melhor não, afinal acabam descobrindo meus problemas com meu pai!
Sentir fome, mesmo se tiver em jejum há 10 horas, melhor evitar, senão vão logo me lembrando que sou taurina. E chorar? Nadinha, mesmo que enfiem o dedo no meu olho. Senão vão achar que chorei só porque meu ascendente é câncer!
Nem frio tá dando pra sentir! Outro dia eu estava numa temperatura de 2ºC e conseguiram analisar energeticamente minha sensação térmica!
Ando sentindo falta de mais seres bobos, tolos, feitas só de risos, sem precisar curar nada, nem analisar energeticamente nada.  
Se tudo tem um porquê, não significa que eu esteja na vida para escutar todas as explicações energéticas por trás de todos estes porquês. 
Ando com um certo freio puxado até quando vou atender seres novos, afinal de novo e como sempre, não me encaixo no modelo da moda das pessoas de luz atual. Pelo menos não nestas terras.
Não tenho um tom de voz angelical, não consigo conversar mantendo um ligeiro sorriso e  uma leve inclinação de rosto o tempo todo, falo e penso rápido, sou agitada, fico P da vida com um tanto de coisas, tomo Coca Cola quando sinto vontade, não preciso e não quero curar tudo em mim e por enquanto sou só uma filha curiosa e dedicada do criador, ou do Divino que está mais na moda, que segue buscando aprender, mas que não está afim de aprender tudo ao mesmo tempo agora. Gosto da vida e tenho planos reencarnatórios, se curo tudo, vai que viro luz e não volto..rsrsr
Como boa índigo que sou (olha meu lado pura luz..rs), tenho sentido calafrios em algumas muitas situações, da mais legítima luz artificial, mas vou entendendo que está tudo certo, cada um no seu momento e com seu interruptor. A mim cabe o respeito e seguir na gratidão namastê!
(Se algum novo iluminado leu até aqui, já tô no limbo de Ganesha, cheia de curas que devo fazer, coisas que devo olhar, crenças que devo superar, terapeutas que devo conhecer!).



   

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