Parindo de pernas fechadas


                                                                   

  E foi lendo o texto "3 verdades sobre as mães que dão a luz por cesárea" que me dei conta dos anos que passei me pedindo desculpas por isso! Desculpas por minhas, assim mesmo no plural,  minhas cesáreas! Três ao todo! Nenhuma programada, nenhuma escolhida, apenas foram!
  A primeira, há 23 anos atrás, me encontrou numa fase "vegetariana, ecológica, meditação, taichi, incenso, Ibirapuera e rádio Alpha", ou seja, tudo o que eu mais desejava era parir de maneira natural, não pra voltar a forma rapidamente, mesmo porque a forma não era minha prioridade, minha prioridade era fazer minha filha chegar naturalmente. 
  Não consegui! Após 2 idas pra maternidade e sem entrar de fato em trabalho de parto, na 3ª vez, as contrações começaram as 06:00, a bolsa rompeu no final do dia e as 22:00 o médico me comunicou que não poderíamos esperar mais pois seria um risco! Chamaram o anestesista e me levaram pra sala de parto. Aos prantos por não "conseguir" parir de forma natural!    
   Sou frouxa para assuntos médicos, minha recuperação foi lenta, dolorosa mas não tirou em momento algum a imensidão do amor que transbordava cada vez que eu olhava, ouvia ou sentia minha cria! Um amor inexplicável, imenso, que nas primeiras semanas era vivido e experimentado em meio as dores e desconfortos de um corpo em recuperação.
  Cinco anos depois, uma nova gestação e de novo o desejo imenso pelo parto normal. E de novo não pude escolher! Uma série de pequenas complicações me deixaram hospitalizada nas primeiras semanas e embora o restante da gestação tenha transcorrido bem, o obstetra achou que seria um risco desnecessário, eu já havia feito 1 cesárea, minha filha não estava na posição ideal e as primeiras semanas inspiraram cuidados, melhor optar por uma nova cesárea! Impossível negar que de novo me senti frustada, meio incompetente como mulher! Recuperação de outra cirurgia e mais uma filha linda para amar!
  Dois  anos depois, nova gestação e a certeza de que o parto normal estava definitivamente descartado! Foi uma sensação estranha, seria minha última gravidez e eu me despedia da melhor sensação do mundo, gerar, sem ter conseguido um parto normal!
  Por anos isso soou como se parte da maternidade eu não tivesse conseguido cumprir conforme o esperado! O máximo que havia conseguido foi esperar a ruptura da bolsa e as contrações, para que elas estivessem de fato prontas para virem ao mundo!
  Mas esperado por quem? Onde foi que eu aprendi que o parto normal me tornaria mais mãe? 
  Claro que tem inúmeras vantagens para a mãe, para o bebê e deve sempre ser a primeira opção quando seguro! Somente não é o divisor entre as grandes mães e as mães!
  Amadureci e sem me dar conta aprendi que o ato de parir, assim, só abrindo as pernas e deixando vir, é sublime, mágico, único sim, mas que a mágica não está no caminho, no trajeto, no modelo. Natural ou cirúrgico, mágico é gerar, dar a vida, mostrar a vida, foi sentir o ar faltar nos pulmões quando ouvi aqueles choros pela primeira vez, quando senti o cheiro de cada uma, sublime é amar incondicionalmente na certeza que elas são minhas melhores partes, que cada cicatriz que carrego é única e mostram o tamanho da minha força, do meu amor e me enchem de orgulho por ser MÃE!

3 verdades sobre as mães que dão a luz por cesárea

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