Desabafo

  Soube de algo há pouco que me fez querer sentar aqui e escrever, desabafar, desafogar a ira, seria mais adequado!
  Um amigo querido, durante este fim de semana, foi  impedido de entrar numa festa em SP e agredido verbalmente por ser gay! E saber disso me fez lembrar de dois fatos semelhantes nas últimas semanas, um na ficção, onde um personagem na novela das 20:00 é perseguido na rua pelo mesmo motivo e outro na nossa realidade, quando um juiz resolveu anular um casamento gay em Goiânia, alegando entre outras coisas, que casamento "é uma união entre homem e mulher com intuito de gerar filhos e que casais gays não gerariam filhos".
  Fiquei e ainda estou assustada, sei que isso acontece, mas quando chega perto de alguém que conhecemos parece que fica ainda mais monstruoso! Vivemos numa sociedade onde as ações se sobrepõe aos pensamentos, passamos o dia agindo, fazendo mil coisas, sem estarmos realmente presentes em quase nenhuma! Vamos atropelando as coisas e as pessoas, respondendo sem prestar atenção as perguntas, decidindo sem analisar as opções, nos assustamos com alguma tragédia que a imprensa noticia, comentamos por uns dois dias e depois nem lembramos mais!
  Prefiro acreditar que é isso o que move estas pessoas, que são estas ações impensadas que levam a atitudes tão surreais!
  Afinal o que pode levar alguém a achar que tem o direito de agredir, de julgar, apenas por esta pessoa namorar, fazer sexo, ou viver com alguém do mesmo sexo? Onde está escrito que isso é errado ou proibido? Onde se baseiam estas pessoas? Na anatomia talvez, algo do gênero "se eu nasci com a porquinha, tenho que me apaixonar por alguém que tenha nascido com o parafusinho?"...Será que é assim?
  Nos apaixonamos por uma obra completa, por uma pessoa com todas suas características, suas nuances e não por um detalhe da obra! E particularmente não gosto da expressão "opção sexual", não creio nisso. Não acho que seja assim, como se fosse algo como escolher entre uma bolsa preta e uma marrom! Não acho que escolhemos simplesmente, se ao longo da vida nos apaixonaremos por João ou por Maria, simplesmente nos apaixonamos!
  Simples como quando vamos crescendo e percebendo que gostamos mais de doce do que de salgado, que preferimos MPB a Axé, sem que tenhamos que nos sentar um dia para refletirmos, analisarmos, fazermos uma escolha e comunicarmos a sociedade! Simplesmente acontece! Ou pelo menos deveria ser assim "simplesmente".
  O que atropela a simplicidade é a hipocrisia, uma hipocrisia assustadora!
  Porque afinal algumas pessoas dão tanta importância a vida afetiva dos outros ? 
  E voltando ao caso daquele juiz, a palavra união deveria ser compreendida como duas pessoas que buscam uma relação estável, de amor, respeito e cumplicidade. Quanto aos filhos, acho que esta deveria ser outra questão a ser refletida. O que é mais complicado de explicar a uma criança, que recebe amor de duas mulheres ou de dois homens, que se amam e se respeitam, ou que papai e mamãe seguem os padrões estabelecidos pela sociedade, entretanto não existe respeito ou carinho nenhum entre eles?
  Eu sou mãe e o que tento passar a minhas filhas é que não existe amor feio ou errado. Existe amor! E num plágio confesso "Toda forma de amar vale a pena"!
  Não quero que minhas filhas fechem os olhos, ou como dizem alguns, "aceitem porque não tem opção, "eles" estão em todo lugar mesmo!"
  "Eles" somos nós! Porque eu não acredito que nascemos programados a sempre nos apaixonarmos por Maria ou João! Mas esta necessidade de rótulos, de sempre definir alguem como "homosexual, bissexual, heterosexual..." acaba alimentando essa neurose coletiva.
  Quero que minhas filhas analisem menos, não busquem explicações, justificativas ou respostas, que aprendam que somos todos muito maiores do que estas definições e que elas são absolutamente desnecessárias !
  Quando todos compreenderem isso, seremos bem mais felizes
(03.07.2011)

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