Um novo relacionamento.

  Foi há duas semanas que te conheci, não que fosse um desconhecido, conhecia de vista, de ouvir comentários, relatos de outras pessoas, mulheres na sua maioria. Mas a mim mesmo foi apresentado há 2 semanas.

  Apresentação delicada, cuidadosa, tendo em vista meu confesso pé atrás. Primeiro tentaram me explicar os benefícios, o porque valeria a pena nos aproximarmos, me faria bem afinal, eu poderia acreditar nisso!

  Mas depois da apresentação inicial, ainda teria que esperar quase um dia inteirinho para o contato real, a possibilidade de finalmente descobrir o porque já era íntimo, já fazia parte da vida de tantas outras mulheres. Quais benefícios me traria de fato!

  Ainda ponderei, analisei, pensei, conversei tentando encontrar a segurança que teimava em não querer aparecer para mim, mesmo parecendo tão fácil para a maioria ao redor. Por que eu ainda resistia tanto, tinha tanto medo, medo até mesmo de uma simples tentativa, de me deixar levar caso permitisse tentar, de não conseguir encontrar um não depois disso.

  Fui deitar ponderando, entre o medo e a vontade. Tinha que reconhecer que no fundo tudo que mais queria era acreditar, era ceder sem medo! Foi longa a madrugada!!

  Acordei, tomei banho, depois um café da manhã bem demorado, para me dar tempo de alguns últimos momentos de reflexão, na esperança de finalmente encontrar uma certeza qualquer.

  Não sei se foi com a certeza desejada, álias, não foi com a certeza desejada, porque não conseguia nem manter minhas mães firmes, mas consegui abrir a bolsa e pegar a bendita caixinha que tanta análise e reflexões e ponderações e questionamentos vinha me causando!

  Eu deveria começar pela dose menor, 37,5 mg apenas. Apenas?Para mim aquilo parecia a roleta russa da dependência! Que garantias eu teria,  de que dali eu não alçaria vôos mais audaciosos e logo não estaria íntima de todos ansiolíticos da história? Solucionar problemas com remédios? Definitivamente isso não se parecia comigo!!

  Engoli! O comprimido e minhas convicções! E escolhi não mais pensar nisso, não mais me cobrar, antes que acabasse desenvolvendo uma "mini depressão" por isso e me receitassem um antidepressivo também!!

  Isto já seria demais, melhor abstrair as convicções então!

  As primeiras 24 horas foram uma mistura surreal de pânico e serenidade! Não entendia como um comprimidinho poderia alterar meu estado de espírito daquela maneira. 

  Como assim? Com que direito aquela mini cápsula poderia expulsar de mim, meus desníveis emocionais tão cultivados nos últimos meses? Afinal eu vinha conseguindo numa mesma tarde amanhecer querendo dominar o mundo e ir deitar querendo exterminar o budismo! E agora, este comprimidinho iria tirar meu direito aos pequenos acessos insanos do cotidiano! Confesso que a principio não sei se veria muita graça nisso! Mas também confesso que minha unhas ja me faziam uma falta imensa!!

  Dos famigerados (e apavorantes) prováveis efeitos colaterais, só um ligeiro tremor nas mãos nas primeiras horas, não tão ligeiro, reconheço, me fez desistir de preparar torradas para o café da tarde, melhor comer um pão de queijo, não seria necessário cortar!

  Mas as horas, os dias,  que se seguiram, preciso reconhecer, foram surpreendentes! As unhas já começaram a dar os primeiros sinais de renascimento, o bom dia dos amigos, pela manhã no trabalho já readquiriu som, os conselhos e conversas sérias sobre a preocupação com meu humor (que agradeço muito sempre) já estão deixando de existir!

  Claro que continuo e vou continuar sempre, graças a Deus, me estressando, me preocupando, querendo, esperando e cobrando sempre o melhor de mim e de todos ao meu redor, ficando triste, chateada, feliz, enfim, viva, e isso é bom demais!

  E descobri que não abri mão de minhas convicções quando me permiti engolir aquele comprimidinho. Continuo acreditando que devemos encarar e tentar solucionar os problemas sempre, e nunca apenas mascarar, nos livrar dos seus efeitos sobre nós. Apenas reaprendi que há momentos para tudo, e que meu momento era esta, eu deveria primeiro dar atenção aos meus sintomas para devagar e mais centrada tentar organizar o que acontece ao meu redor!