Um dia de fúria cor de rosa

                                                                     

   Uma das palavras que mais repeti na vida, tem momentos que se torna inacessível para mim! Onde foi parar minha amiga, companheira de uma vida inteira, que tanta inveja despertava nos ansiosos e impacientes de plantão, a paciência?
  Há dias onde se eu sair na chuva, acabo falecendo, tamanha eletricidade que passa em mim! Aqueles dias em que tudo que eu queria era colocar num mesmo barco  (heresia total e assumidíssima) Gandhi, Buda, Cristo, Madre Teresa, o Papa e até o Paulo Coelho! Aqueles dias que uma até respiração mais profunda de alguém me incomoda e a todo momento surge uma alma transbordando boas intenções e vem me falar que a vida é assim mesmo,..que dias melhores virão,..que Deus dá o fardo de acordo com os ombros,...que depois da tempestade vem alguma coisa que eu nunca lembro,..mas que no meu caso só podem ser raios e trovões!
  Não quero saber de Buda, nem do Paulo Coelho nestas horas! Quero que o mundo de uma paradinha básica, para eu poder não descansar, mas dar uma adiantadinha no trabalho, ganhar prazo, porque descansar já ando desistindo. O que quero são apenas prazos maiores, cobranças menores, empatia e noção!
  É isso! Falta de noção! Tenho repetido muito isso de uns tempos para cá, que o que mais falta no ser humano não é educação, respeito, consciência de nada, falta é noção mesmo. Porque a noção engloba tudo isso e muito mais! Noção de espaço, de tempo, de que não somos moradores solitários nem independentes no planetinha, somos sim, completamente entrelaçados, interligados! Olha a borboleta ai pessoas!
  Mas o que tenho visto todos os dias são gentes se atropelando, transformando o cotidiano numa guerrinha por espaços as vezes ridículos. Quer espaço mais ridículo a ser disputado do que um lugar na fila do supermercado?
  Pois foi o que presenciei hoje, entre assustada, apavorada e desiludida! Uma pessoa que tenta levar vantagem na fila do supermercado só pode estar sem noção! 
  Eu estava correndo, como sempre, peguei as compras meio no automático e procurei a fila que parecia mais produtiva, onde haviam na minha frente apenas 2 pessoas: uma senhora com um carinho cheio e uma garotinha segurando um pacote de bolachas. Tentei ser gentil e até perguntei a ela porque não ia para a fila do caixa rápido, ao que ela apenas deu um sorrisinho e disse "porque não"! Tão educadinha!
  A senhora no carrinho passou suas compras e quando eu pensava que logo estaria voltando ao trabalho, eis que a tal garotinha simpática acena com a mão direita para alguém da direita, depois acena com a mão da esquerda para alguém da esquerda e de repente brotam como que num passe de mágica, na minha frente 2 carrinhos cheios, repletos, transbordantes! Duas senhoras, cada qual empurrando o seu, uma com certeza era a mãe da tal garotinha, a semelhança era gritante, a outra, sabe-se lá quem era!. Eu havia ficado ali, de pé na fila por longos e doloridos minutos (maldito sapato de salto, deveria ter um local para deixa-los na entrada no supermercado junto as sacolas) e agora esta garotinha, ou melhor, esta mãe de garotinha surge risonha naquele batom cor de rosa, justo batom cor de rosa, eu detesto batom cor de rosa, só poderia ser de propósito, empurrando aqueles carrinhos, lotando a esteira do caixa que já era meu, de compras e mais compras, numa sucessão interminável de molho de tomate e bolachas. (Entendi porque era justamente uma bolacha que a garotinha segurava, era o que mais tinha nos carrinhos!).
  Para alimentar mais ainda meu desejo insano de cometer um homicídio, ela, a senhora do batom rosa, sorri, com aquela boca rosa e me diz que o supermercado estava muito cheio, ela estava com pressa pois tinha visita em casa, por isso se dividiram para segurar lugar nas filas, esperando ver a que andasse mais rápido!
  Não me considero a polichata, aquela pessoa  que vive para seguir todas as regras e normas e para chatear as pessoas ao redor cobrando o mesmo. Longe disso! Mas me considero correta, mesmo que ser correta signifique aguentar bravamente horas sobre um salto de 13 cm andando dentro de um supermercado e depois aguardar sorrindo na fila e até manter a serenidade quando o caixa não lê o código de barras de um produto e a pobre caixa acende aquela luzinha vermelho socorro para que alguém venha buscar o produto e verificar seu preço! Mas agora, eu não estava conseguindo me manter no salto, mesmo porque tudo que eu queria era usa-lo para tirar aquele sorriso cor de rosa da minha frente!
  Me lembrei de um daqueles que as vezes quero colocar no barco, santo Buda, dai-me a paciência necessária para manter meu salto nos pés e aquele batom cor de rosa naquela boca que teimava em ficar sorrindo para mim. 
  Respirei fundo, sorri, balbuciei um "tudo bem, sem problemas" e continuei de pé no meu salto 13, com a certeza de que falta muita noção no mundo de hoje..
  

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