Em nome do pai

  
                                                                     

  Cheguei por aqui como todo mundo, ou quase todo mundo. Fruto de mãe e pai. A diferença, que também nem é tão diferente, é que apenas a mãe foi figura presente.
  Nasci, brinquei, fiz amigos, estudei, namorei, casei, fui mãe, me tornei mulher. E nesta caminho de só mãe, também chorei muito, bati de frente, fui rebelde, fiz chorar, decepcionei minha mãe, me decepcionei, mas não tenho dúvida alguma que fui bem criada, muito bem criada. 
  Basta uma rápida olhada no espelho para eu ter certeza disso. Tenho um baita orgulho de mim e da mãe que esteve ao meu lado estes anos todos!
  Nunca busquei muitas respostas, nem fiz muitas perguntas, por algum motivo acho que nasci sabendo respeitar o espaço alheio e o espaço que esta história ocupava em minha mãe era doloroso e optei por respeita-lo.
  Mas claro que tive dias, períodos, momentos de questionamento, de querer entender, compreender, mas nada era tão forte quanto a necessidade de um rosto.
  É uma sensação que somente quem vive pode compreender, ver em você mesmo algumas características tão fortes e não conseguir localiza-las em ninguém que esteja ao seu lado, um traço físico, uma mania, um dom, enfim, sempre carregamos uma infinidades de "parentices", aquelas coisas que dizem "puxou de fulano". Algumas vezes eu não sabia quem poderia ser o fulano!
  Me orgulho de nunca ter batido neuroses nem revolta de nenhuma espécie e isso atribuo também a minha mãe. Comentários maldosos sobre a atitude de meu pai ao não me reconhecer, ou qualquer indelicadeza similar, não fizeram parte de minha vida e isso me trouxe serenidade para lidar com a situação.
  Os últimos anos colocaram esta parte da minha história numa caixinha. Guardei num canto de mim com a plena certeza de que nunca mais a revisitaria. Continuaria sendo parte de mim, mas aquela parte intocável e silenciosa!
  Se me perguntarem se pai faz falta, sim, claro que faz! Tive uma super mãe, um avô a quem durante toda minha vida chamei de pai e a quem dediquei um amor que poucos pais devem ter recebido, que foi meu grande referencial masculino, mas também quis muitas vezes um pai, nem que fosse para implicar com meus namorados...
  E dai, na certeza de minha caixinha bem guardada, a vida me lembra aquilo que sempre soube: que ela sopra, no momento necessário ela sopra. Não nos avisa, não nos pede, apenas sopra nossas certezas, nossas escolhas, nossas decisões, nossa mobília emocional!
  Olhei pro lado e me descobri dividindo espaço com uma tia, irmã de meu pai, parte de uma família a qual nunca tive acesso, nem conhecimento. 
  Houve uma vez uma visita sim, por volta de meus 11 anos, uma tia muito especial, irmã de minha mãe me levou a casa  desta mesma tia que descobri hoje ao meu lado. Mas esta foi a única aproximação, não me lembrava mais do seu rosto e em momento algum nos reconhecemos. Somente ao olhar os documentos é que descobri este sopro da vida!
  Assustei, chorei, pedi colo pra psicóloga, pedi ombro emprestado e serenidade pra Deus. Claro que fiquei feliz, a tia descoberta, eu havia gostado dela a primeira vista, gostei assim que vi, sem saber do laço que tínhamos. Mas a situação me assustou muito.
  Passei duas semanas  me dividindo entre o medo, a alegria e a covardia. Encontros são sempre um presente, todos. Nos acrescentam, nos ensinam, dão a chance da troca. Mas o medo do desconhecido assusta muito e isso é inevitável! E a covardia? Olhar nos olhos de minha tia sem que ela soubesse quem eu era me causava uma sensação de falsidade, covardia e depois de alguns ensaios, num ímpeto entrei na sala dela e despejei um "sou filha do  seu irmão"!
  Assim, quase a seco, não consegui encontrar um meio de caminho para falar!
  Mas o sorriso, o abraço, a verdade que senti quase desmontaram meus medos!
  Admito que senti uma espécie de laço invisível atando meus movimentos e palavras nos minutos em que estive na sua frente e ainda não sei identifica-lo direito. Insegurança, medo, curiosidade, sei lá, talvez um pouco de tudo!
  Também não consigo identificar o motivo que me fez transformar tudo em frases, acho que queria ler parte de minha história assim, apenas como espectadora.
  Quem sabe isso me facilite...

Comentários

  1. Amiga, emocionante!
    A vida prega cada peça, mas com o amadurecimento adquirido através das experiências faz com que situações que para alguns seria um drama, uma verdadeira tragédia, seja para os preparados uma situação ainda difícil, mas que transforma-se facilmente em algo de fácil trato.
    Parabéns por sua sabedoria e principalmente por seu talento em transformar um caco de vidro em diamante!
    Te admiro ainda mais... Sucesso

    Debora Costabile Ricci (28/Abr./2013 - 20:25hs)

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