Depressão

    
                                                                          

  E esse papo tem se tornado um papo frequente, uma situação frequente, próxima e cada dia mais urgente!
  Outro dia falamos sobre terapia, tentando diminuir um pouco aquele visgo do preconceito que ainda existe pra muita gente, agora vamos um pouquinho além: depressão!
  Não sou psicóloga e toda minha observação vem disto: da observação!
  A infinidade de informações sobre o assunto, talvez ainda não consiga curar o maior desafio da depressão: o preconceito.
  O medo de se perceber deprimido é contrário a necessidade de se posicionar feliz pra geral ver! A sociedade espera e aplaude as pessoas produtivas, sorridentes, criativas, que sempre saem bem na foto! Perceber e aceitar que nem de foto estamos gostando pode ser bem tenso!
  Muitos até aceitam que estão "meio deprimidos", mas tentam acreditar que um chopp com os amigos, um curso de pintura, uma sessão de massagem ou uma garrafa de vinho vai resolver tudo! Não vai! Vinho é tudo de bom, eficiente pra aquele dia bad, mas dia bad é estresse, frustração, tristeza. Depressão é outra coisa!
  Também não é "coisa de adolescente"! Coisa de adolescente é tatuagem, balada, rebeldia, choros de impulso, risos fáceis e bobos, dúvidas sobre qual faculdade escolher, qual balada ir, que roupa vestir, nunca dúvida sobre viver ou não viver! Não subestime ou ironize a dor adolescente, algumas não se resolvem no papo com a melhor amiga ou no porre escondido!
  É meio como uma tristeza que vem com preguiça de ir embora, que chega sem precisar de motivo, que as vezes pode virar euforia, misturar lágrima, riso, silêncio, tagarelice, vontade ficar, vontade ir. Que as vezes é raiva porque sabemos que ela está ali, não gostamos que esteja ali, mais simplesmente não conseguimos tirar dali, mesmo com aquele coro ao redor repetindo que "temos que nos esforçar, temos que tentar reagir, temos que ser fortes, que trabalhar, que deixar de frescura..."
  Muito já se escreveu, já se falou, mas talvez não haja definição possível que permita a um outro compreender que dor é esta!
  A ironia da depressão é que mesmo sendo tão famosa e comentada nos últimos tempos, ainda não possua uma boa foto! Não há um exame, uma imagem, uma selfie, que possamos postar, mostrar para a família e os amigos toda vez que começarem com o mantra do reage! E a falta de "provas" muitas vezes só aumenta a dor! E o excesso de "reage" muitas vezes só aumenta a sensação de impotência, incompetência, fraqueza!
  O papo de hoje não saiu apenas da observação, saiu daqui de dentro, da mistura de tudo o que já observei, já li, já ouvi, mas principalmente, tudo o que já senti! Foi meu grande monstro da adolescência, meu desafio, meu crescimento e na vida virou meu alerta e minha vontade constante de tentar compreender as dores ao redor. Ouvi de uma psicóloga uma vez que minha facilidade em abraçar a dor do outro, vinha da identificação! Creio que sim! Vai ver meu monstro tenha servido para me tornar um ser humano um tantinho mais humano! Mas não conquistei isso sozinha e nem foi fácil o percurso, aliás continuo nele, numa constante auto observação, auto aceitação e principalmente amor, o próprio, porque este é o melhor deles!
  De qualquer maneira acho uma puta burrice essa cultura de que somos mega e podemos tudo! Podemos muito sim, mas também somos frágeis, assustados, feitos de limites e medos, somos só humanos mesmo! E isso é o mais bacana, aceitar nossas vírgulas, nossos monstros, buscar ajuda, sabendo que tem horas que basta um colo, mas tem horas que precisamos de mais do que isso, precisamos de ajuda profissional! E precisar de ajuda é coisa de gente normal!

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