Opiniões - Todo mundo tem uma para dar! Ou duas...

  
                                                                 
  Ando com a sensação de que ultimamente quase todo mundo se tornou craque na arte da empatia não pedida ou do palpite mesmo!
  A começar pelo já conhecido técnico de futebol. Todo brasileiro é um pouco técnico de futebol, frase nossa velha conhecida. Basta ter um time em campo e nem precisa ser o seu, para aparecerem várias vozes, escalando melhor o time, fechando mais a defesa, reforçando o ataque, e por ai vai.
  Aquela frase "se fosse eu no seu lugar, ou se fosse eu no lugar dela(e)", anda super em moda!
  Parece que de repente todo mundo tem uma solução melhor para nossa vida, uma saída mais madura para nossos percalços, uma melhor resposta as nossas perguntas, conhece melhor que nós mesmos nossas necessidades!
  Isso tem me tornado meio clichê, tenho oferecido gatos a muita gente!
  Temos pretendentes a nossa cunhada, a esposa do nosso amigo, marido de nossa colega, amante de nosso vizinho, professora de nosso filho, nossa chefe e todos os outros que fazem parte de nosso cotidiano. Sempre há alguém que saberia agir melhor se estivesse vivendo a história deles.
  Basta um comentário, por mais inofensivo que possa ser, algo como um simples "jantei fora ontem a noite" que já estamos correndo o risco de surgir uma voz que irá docemente nos recomendar um restaurante ainda melhor,  afinal "no seu lugar eu teria ido ao restaurante X, porque lá eles oferecem um Y melhor" e quando cometemos o descuido de mencionar um problema, uma queixa ou reclamação qualquer! Meu Deus do céu! Este é o ápice da empatia não solicitada! Surgirão vozes, algo como uma imensa caverna ecoando sons distintos, a repetir o que deveríamos ter feito, como deveríamos ter agido, a palavra que deveria ter sido dita, a expressão facial correta, e claro algumas críticas virão junto! - "Afinal estou falando porque tenho liberdade (que liberdade??..) com você para isso, mas você agiu completamente errado!" Pronto minha mãe incorporou naquele corpo! E eu nem 13 anos tenho mais!
  O direito as minhas futilidades andam assustados! Comprar um sapato mais caro? Mesmo que eu vá dividir em 3 vezes no cartão? Uma heresia não perdoada pelas vozes de plantão! - "Como você cometeu esta maluquice? Depois vem reclamar que está sem dinheiro!"  Ou ainda a segunda opção "palpitativa" - "Nossa, você esta podendo hein??!"
  Planejar uma viagem? - "Vai gastar com isto, porque não usa este dinheiro para investir em outra coisa?"
  Discutiu com o marido?- "Você se estressa por pouca coisa!"
  Não discutiu com o marido? -"Você aguenta coisa demais dele!"
  Amo, de verdade, as palavras e os abraços dos amigos, mas existe uma diferença abismal entre os palpites e as palavras amigas! E isso as vezes é gritante!
  Amigos respeitam, criticam, pegam no pé claro, mas sempre guiados pelo respeito!
  Respeito as nossas escolhas, aos nossos medos, as nossas fraquezas, as nossas necessidades.
  Meu maior desafio de aprendizagem nos últimos tempos, foi aprender não julgar, não tecer opiniões sobre escolhas e gestos alheios. Desde aquelas que parecem banais e que verbalizamos sem perceber várias vezes no decorrer do dia, até as mais complexas, quando ousadamente podemos nos achar no direito de rotular um ato, explicar uma escolha, ou criticar um passo.
  Como assim? Como posso ser eu a saber quais as necessidades do outro, ainda que o outro esteja ao meu lado todos os dias? O que me dá direito de achar que sei o que é melhor ou mais certo, quando nem minhas certezas ainda conheço? Por que acho que posso criticar quando supostamente sinto que falharam comigo, se eu mesma falho comigo várias vezes? De onde sai a pretensão em acreditar que sei exatamente o que uma outra pessoa deveria fazer, escolher, comprar, precisar, querer ou não querer?
  Vivo tentando me conhecer, me entender, me descobrir, por que então vou crer que sei tanto sobre o outro, se pouco sei sobre eu mesma?
  Sou eu o maior mistério e desafio que devo tentar compreender, aceitar e admirar e são as minhas escolhas, os meus atos e os meus caminhos que devo observar, conhecer e pensar. 
  A vida ao lado pode me servir de inspiração, de admiração, de aprendizagem, mas não sou eu quem deverá fazer ou julgar suas escolhas!


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