Ex sensatez



                                                                                           
  Como mulher peço licença para dar gênero a conhecida frase "quer conhecer uma pessoa, dê poder a ela".
  Eu diria "quer conhecer uma mulher, peça o divórcio a ela"!
  Mulheres são seres hormonais, viscerais, de fases e carregadas de uma boa dose de doce insensatez, ou nem tão doce as vezes...
  Atravessamos as últimas décadas divididas entre soutiens queimados e passeatas nuas, esbravejando a pleno pulmões o direito a igualdade, ao poder fazer, a independência dos nossos homens.
  Dirigimos de retroescavadeiras a empresas, podemos convidar para um motel, dar para quem tivermos vontade e quantos sentirmos vontade. Vamos contabilizando pouca roupa, muito sexo, trabalho, família, pós, mestrados, depilação laser, etc, etc.
  A mensagem que buscamos todo tempo é que somos seguras, independentes, não precisamos de homens a nos bancar, guiar, ou dar ordens. Ainda nós casamos, mas não abrimos mão de nosso próprio espaço em nome do matrimônio. Conta conjunta, dinheiro meu.
  O mais irônico é a maneira imediata que esta tão desejada independência sai de cena quando se ouve a palavra divórcio.
  Não sou adepta a regras e já afirmei isso muitas vezes, não vou dizer que todas as mulheres agem igual, talvez a maioria, mas o cenário torna-se outro quando o divórcio se apresenta.
  Casais modernos, mulheres independentes, piercings e tatuagens cedem espaço a lamúrias e exigências absolutamente controvérsias a tudo que pregamos até então.
  Contas que eram divididas, ganham um único responsável, filhos que tinham pai e mãe, passam a ter apenas pai, pelo menos para bancar suas despesas, todas elas.
  O dinheiro torna-se munição de uma guerra insana armada por mulheres que até então eram sensatas, lúcidas e independentes! E surge uma nova profissão: ex-mulher!
  Delegam com  a maior naturalidade do mundo a seus ex a obrigação de banca-las, sustenta-las, ainda que deste relacionamento não tenham vindo filhos. Descobrem que o pobre coitado deve ser o responsável por toda uma eternidade de botox, progressiva, supermercado e mais tudo aquilo que vier a cabeça na tentativa absurda de vingar, descontar, revidar, ou apenas destilar o veneno da fase mal amada!
  E quando o divórcio vem acompanhado da "vagabunda"? Porque para ex, toda futura é vagabunda!
  A mulher em questão pode ser caixa das Casas Bahia, criar sozinha 3 filhos pequenos, que ainda ostentará o título de vagabunda! E se ela chegar antes do pedido de divórcio, com certeza, estará destinada a ser vagabunda eternamente, mesmo quando já estiverem casados, com 4 filhos, 1 cachorro e um financiamento Minha Casa Minha Vida!
  Para onde vai a dignidade quando o pedido de divórcio chega? Onde colocamos a independência, a auto confiança e a inteligencia? Por que partir para o jogo baixo, sujo, deixando de lado tudo que foi vivido antes?
  Por que os filhos passam a ser obrigação apenas do pai só porque ele resolveu pedir o divórcio? E por que acham que também se tornam filhas ao exigirem serem sustentadas?
  Já visitei dois lados de um triângulo, fui a esposa traída  com filha pequena,  exerci meu direito de mulher apaixonada chorando e pedindo para não acabar, mas mantive minha dignidade sabendo o momento exato de dividir minhas lágrimas com meu travesseiro, sem rotular ninguém e muitos anos depois fui a outra antes de me tornar esposa, recebendo rótulos que nem imaginava existir. 
  Tenho a certeza de que somos sempre apenas dois, os responsáveis pelos caminhos de um relacionamento. Culpar a terceira pessoa é uma tentativa desesperada de delegar ao outro nossas próprias responsabilidades, dando-lhe o poder sobre minha felicidade.
  Desde o primeiro instante o pensamento era o mesmo: não posso exigir amor de ninguém, não me cabe o direito de obrigar alguém a querer viver ao meu lado, não somos senhores de nossos sentimentos, e nem sei se queria isso, qual graça teria a vida, o que nos ensinaria? 
  Também os relacionamentos são cíclicos e os ciclos nem sempre estão numa mesma sintonia, mudamos um pouco a cada dia, ambos mudamos, mas as vezes são mudanças distintas, tempos distintos, necessidades distintas que surgem a nossa frente. Saudável é permitir ir, chorar, sofrer, pedir, mas saber que é preciso deixar ir, não porque deu errado, mas porque o tempo de dar certo passou!
  Guardar mágoas, rancores, fazer exigências absurdas, tornar-me uma vítima dependente emocional e financeira, pode sim desestruturar o outro momentaneamente, trazer o gosto necessário da vingança, mas eu estaria adoecendo, me negando, me entregando, me diminuindo. Abrindo mão de tudo que conquistei.
  Nunca desejei "auxilio ex esposa". Não por orgulho, nem por vingança, mas por meus próprios valores apenas!


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